Em uma das falas mais provocadoras do 1º Encontro de Diálogos Institucionais em prol do Desenvolvimento Sustentável do Vale do Açu, realizado nesta quinta-feira (6) no IFRN de Ipanguaçu, o veterano militante social José Rodrigues, representante da ASA Potiguar, reforçou o compromisso com a luta pela dignidade no semiárido e defendeu propostas ousadas para garantir geração de renda com água e energia sustentável.
“Militância social não tem idade, tem vida. Enquanto eu tiver vida, estou na luta”, afirmou. Com mais de 60 anos de trajetória nas causas populares, José relembrou episódios de sua atuação em conflitos agrários e denunciou o que chamou de “ódio de classe” crescente no Brasil. “É muito difícil trabalhar com o pobre nesse país hipócrita e desumano. E parece que estamos chegando ao ponto do ódio de classe”, lamentou.
Entre as propostas defendidas por ele está a criação de uma política estruturante de irrigação com uso de energia solar no semiárido, com pelo menos 7 hectares irrigados por família. Segundo José, a ideia é ampliar o acesso à água não só para o consumo, mas principalmente para a geração de renda, superando o limite das cisternas e calçadões. “A cisterna é essencial, mas não resolve tudo. O que resolve é água para produção.”
Ele também destacou a necessidade de formação técnica de jovens rurais na área de energias renováveis. “Não adianta só colocar placa solar, temos que formar os meninos e meninas daqui para montar e fazer manutenção. Isso é dar profissão e futuro para nossa juventude rural”, argumentou, defendendo a construção de placas solares com mão de obra local no Rio Grande do Norte.
José fez ainda duras críticas à destinação da água da barragem Armando Ribeiro Gonçalves, construída inicialmente para beneficiar pequenos agricultores. “Até hoje essa água não chegou na agricultura familiar. A promessa era conter enchentes e gerar produção, mas ela corre para atender grandes interesses e, no fim, volta cinza, matando vida marinha no litoral”, denunciou.
Finalizando sua fala, ele defendeu o reaproveitamento da água cinza que sai de Natal e propôs um ousado projeto de transposição interna para as regiões do Mato Grande e do interior potiguar. “Disseram que era caro. Mas tudo para o povo é caro. E o barato nunca chega.”